Amor de Carnaval já dura 24 anos com casal fazendo artesanato junto

Por trás do perfil "Ki Casal Arteiro", no Instagram, existe bem mais do que uma variedade de peças artesanais com DNA sul-mato-grossense. Há um olhar sensível para a riqueza natural do Estado e a parceria do casal Kenia Farias, de 46 anos, e Ivan Farias, de 51.

Juntos há duas décadas, a dupla se conheceu em pleno Carnaval e provou que o amor da folia pode sim dar muito certo.  Casados há 24 carnavais, eles compartilham a vida em família e a paixão por produzir arte.

Tudo começou por conta da maternidade. Quando se tornou mãe, Kenia decidiu trocar o trabalho com carteira assinada por uma rotina em casa. “Eu não queria terceirizar a maternidade e não compensava trabalhar fora e pagar alguém para ficar com meu filho”, relembra.

Decidida a trocar de carreira, ela começou a explorar habilidades manuais: primeiro bordando vagonite, depois montando bijuterias e vendendo para colegas do antigo trabalho de Ivan. Porém, foi em uma das edições da Festa do Folclore, em Três Lagoas, que a paixão pelo artesanato floresceu.

Junto com uma amiga, Kenia começou a fazer quadros usando uma técnica que lapida pedras e madeiras. Nas peças, as duas retratavam cenas do dia a dia, como pássaros e flores. “Eu passava na rua, via uma madeira e já pensava: dá pra fazer alguma coisa com isso”, conta.

Da madeira, nasceu também a paixão por cocares. “Fiz o primeiro e vi que dava conta de fazer os cocares sem precisar pegar desenho da internet”, pontua.  Depois disso, a artista mergulhou de vez no string art , técnica que usa linha e prego para formar imagens.

Algumas peças chegam a ter mais de 3 mil pregos. E cada nova inspiração, um novo experimento. “Eu não consigo copiar nem o meu próprio trabalho. Sempre vai mudar uma pena, uma cor, um detalhe”, explica.

As inspirações vêm da natureza e das emoções. De araras, de terra, de vivências em aldeias indígenas. E, claro, de Ivan, que fica todo convencido ao ser citado como inspiração da mulher.

Parceiro na vida, Ivan também se espelhou na esposa para produzir. Mergulhado em arte dentro de casa, ele descobriu uma habilidade na qual é autodidata, assim como Kenia: a pirografia, técnica que grava desenhos em madeira usando ferro quente.

“Eu comecei com uma peça da nossa família que estava numa foto. Queimei a imagem na madeira, dei os detalhes, e ali vi que podia criar algo diferente”, explica. Com o tempo, passou a produzir peixes regionais, troféus personalizados e uma variedade de itens.

“Meu trabalho exige muito. Lidar com equipes, alunos, metas, ações. É algo que me realiza, mas também me consome. A arte foi o que encontrei pra me aliviar, tirar o estresse e me reconectar comigo mesmo”, comenta.

O casal hoje compartilha o espaço criativo, mas também divide críticas e incentivos. “Ela é muito exigente com os detalhes. Já aconteceu de eu terminar uma peça, achar que estava pronta, e ela dizer: ‘Não, não tá legal’. E aí eu ia lá e refazia. Aprendi com ela a ter esse olhar mais apurado”, afirma Ivan.

A esposa retribui o carinho e a admiração. “Ele sempre me apoiou, desde o começo. Ver ele se inspirando no que eu faço e criando coisas incríveis é gratificante. A gente se desafia, se completa”, diz.

As obras do casal arteiro já rodaram o Brasil e o Mundo. Chegou, inclusive, a lugares onde os dois nunca estiveram, como Canadá, Austrália e França.

Mais do que hobby ou trabalho, a arte é uma forma de manter viva a conexão entre os dois. “A gente fala que, quando eu me aposentar, vamos morar num sítio e viver de arte. Só nós dois, fazendo nossas peças, no nosso tempo. Isso é o que a gente sonha”, completa Ivan.

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