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Da boleia ao acostamento: múltiplas faces do trabalho na principal rodovia de MS

Publicado em 01/05/2025 09:05

Diariamente, centenas de cargas passam pela BR-163, rodovia essencial para Mato Grosso do Sul e para a logística de escoamento da produção agrícola. No entanto, pouco se fala sobre os trabalhadores que mantêm viva a principal estrada do Estado — entre eles, os caminhoneiros. Neste 1º de Maio, Dia do Trabalhador, o conversou com motoristas e outros profissionais que vivem à beira da rodovia.

A BR-163, principal rodovia de Mato Grosso do Sul, é palco de histórias de trabalhadores que fazem da estrada seu meio de vida. Entre eles está o casal Dionísio Silva e Diana Menezes, que há 25 anos compartilham a cabine de um caminhão, acompanhados do filho cadeirante de 14 anos. A rotina na estrada apresenta desafios como falta de segurança, infraestrutura precária e altos valores de pedágio. Além dos caminhoneiros, a rodovia sustenta comerciantes locais, como André Tacagi, dono de uma borracharia em Anhanduí, e Rodrigo Corrêa, que mantém um comércio às margens da estrada, enfrentando incertezas sobre a permanência no local.

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Aos 55 anos, Dionísio Silva passou a maior parte da vida na estrada. Caminhoneiro há 40 anos, há 25 se casou com Diana Menezes, de 42, que passou a acompanhá-lo nas viagens. Foi a forma que o “carreteiro”, como se identifica, encontrou de unir trabalho e lar.

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Já Márcio Camelo, de 40 anos, amigo de Dionísio, leva uma rotina diferente. Ele se define como um “visitante” em sua própria casa. Trabalhou por 10 anos como motorista de ônibus de viagem e, há cinco, trocou de profissão. A mudança veio pela falta de valorização e pela grande responsabilidade do antigo cargo.

Apesar de gostarem do que fazem, Dionísio, Diana e Márcio destacam as dificuldades da vida na estrada. Falta de segurança, pontos inadequados de descanso, buracos, ausência de sinalização e os altos valores de pedágio estão entre os principais problemas. "Não é só pelo salário. A pessoa tem que gostar da profissão para poder fazer o melhor. Porque, querendo ou não, transporte exige muita atenção", diz Márcio.

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Ele relata que chega a passar cerca de 40 dias fora de casa. Quando retorna a Boa Vista, onde mora, permanece apenas uma semana. Dionísio, natural de Manaus, está em Mato Grosso do Sul para entregar uma carga de aparelhos de ar-condicionado, vinda da Zona Franca com destino a Mundo Novo.

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Enquanto Márcio convive com a saudade, Dionísio leva a família consigo. Além da esposa, viaja com o filho de 14 anos, que é cadeirante — embora o caminhão não seja adaptado.

Mesmo com a família reunida, as dificuldades persistem. Diana conta que a vida na estrada tem seus bons momentos, mas a falta de acessibilidade pesa, especialmente nos banheiros. "Na maioria dos postos, preciso entrar com ele no banheiro feminino para dar banho, e muitas mulheres não aceitam. É difícil", desabafa.

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Acidentes e companheirismo -

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Ambos os motoristas já sofreram acidentes. Dionísio relembra quando um veículo colidiu lateralmente com o caminhão onde ele estava com a família. O outro motorista dormiu ao volante. Mesmo tentando desviar, houve o impacto, e o caminhão tombou. Ele e o filho tiveram apenas ferimentos leves, mas Diana ficou com lesões nas costas, braços e rins. Ainda assim, considera um livramento: colegas de profissão que passaram pelo local reconheceram o veículo e prestaram socorro.

Márcio, por sua vez, enfrentou um acidente mais grave, quando ainda era motorista de ônibus. Dentro de uma reserva indígena no Amazonas, colidiu com um caminhão carregado de bananas e ficou preso nas ferragens.

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"O que deixa a desejar é o acesso ao socorro. Quem me salvou foram colegas que vinham em outro horário. Eles me tiraram das ferragens e me levaram até um ponto no Jundiá, onde o SAMU pôde me buscar. Se tivesse precisado de mais ajuda nesse trajeto, eu teria morrido", relata.

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Na estrada, pela segurança - A convivência com acidentes também faz parte da rotina da PRF (Polícia Rodoviária Federal), como relata o policial Marcos Khadur, de 52 anos. Com 25 anos de atuação, diz que o trabalho é viciante pela imprevisibilidade de cada plantão.

Mesmo apaixonado pela profissão, já perdeu colegas atropelados durante atendimentos. Por isso, aconselha os mais jovens a procurarem terapia, devido à carga emocional. Uma das histórias que mais o marcaram foi o encontro com uma família de haitianos que, sem documentação, buscava refúgio no Brasil. Após a retenção, ele e os colegas os levaram a um shopping da Capital, no horário de almoço.

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"Eles ficaram espantados com a quantidade de comida. Foi o que mais me marcou", conta.

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À margem da BR-163 - Não são só caminhoneiros e policiais que vivem da rodovia. Quem mora próximo às estradas também encontra nelas uma fonte de sustento. É o caso de André Tacagi, de 47 anos, morador do distrito de Anhanduí, que mantém uma borracharia há cerca de 15 anos.

Ele já trabalhou em granja, mas voltou à borracharia pela renda maior, impulsionada pelo intenso fluxo de veículos. Trabalha todos os dias, inclusive à noite, e só descansa na entressafra. A maior dificuldade, segundo ele, vem do poder público. "A gente só é lembrado em época de eleição. Falta muita coisa por aqui", reclama.

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André lembra de um caminhoneiro que ficou quatro dias abandonado pela empresa para a qual prestava serviço, sem dinheiro para comer. A ajuda veio da solidariedade de quem vive na região.

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"Ele tinha aberto crédito na conveniência do posto. Quando soubemos da situação, fizemos uma vaquinha. Hoje ele passa aqui e é amigo da gente. Quem não gosta de ser bem tratado?", comenta.

Antônio Cândido de Souza, de 69 anos, também tira o sustento da estrada. Há 10 anos mantém uma barraca às margens da BR-163. Mas reclama da queda nas vendas, reflexo da situação econômica do País.

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"Não tenho mais condições de fazer outro trabalho. Isso aqui seria ideal, mas não está compensando. Às vezes fico o dia todo para vender R$ 100, R$ 80 ou até R$ 10", relata.

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Além da baixa renda, Antônio vive com a incerteza sobre o futuro. Não sabe se poderá manter a barraca no local. Medo semelhante ao de Rodrigo Corrêa, de 42 anos, comerciante na região de Anhanduí. Há três anos, deixou o emprego em uma fábrica e, junto da esposa, mantém o negócio. Teme que a concessionária da rodovia retire os trabalhadores dali.

"A gente tem altos e baixos. Trabalhar com preço não está fácil. Tem dias que batemos a meta, outros que não. A gente se sente desvalorizado. Muita banca não está conseguindo se manter", afirma.

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Além da baixa renda, Antônio vive com a incerteza sobre o futuro. Não sabe se poderá manter a barraca no local. Medo semelhante ao de Rodrigo Corrêa, de 42 anos, comerciante na região de Anhanduí. Há três anos, deixou o emprego em uma fábrica e, junto da esposa, mantém o negócio. Teme que a concessionária da rodovia retire os trabalhadores dali.

"A gente tem altos e baixos. Trabalhar com preço não está fácil. Tem dias que batemos a meta, outros que não. A gente se sente desvalorizado. Muita banca não está conseguindo se manter", afirma.

Apesar dos desafios, a BR-163 também abriu caminhos para muita gente. Janaína Ferreira, de 22 anos, conseguiu o primeiro emprego em 2022 na CCR MSVia, concessionária que administra a rodovia. Hoje é líder de praça de pedágio.

"O bom do trabalho é que ele é dinâmico. Cada dia é uma surpresa", resume.

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