
Dois meses: morte de jornalista acelera análise e Deam destrava mil inquéritos
Publicado em 12/04/2025 08:48
### Início: O Impacto do Feminicídio de Vanessa Ricarte
Há dois meses, a morte da jornalista Vanessa Ricarte abalou a comunidade de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Seu assassinato, cometido pelo ex-companheiro, expôs uma realidade alarmante: a ineficiência da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) em lidar com os casos de violência doméstica. A tragédia não apenas chocou a cidade, mas também expôs uma falha sistemática no sistema de proteção às mulheres. A dor da perda de Vanessa não foi apenas pessoal, mas também um grito de alerta sobre a necessidade de uma mudança urgente. Sua história, infelizmente, não foi um caso isolado. Ela havia buscado ajuda na Deam, mas as falhas no sistema acabaram por custar sua vida. Sua morte, no entanto, serviu como um catalisador para ações concretas. Em resposta a essa tragédia, um grupo de trabalho foi formado com o objetivo de desvendar os 5,3 mil boletins de ocorrência que estavam parados na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam).
### Desenvolvimento: A Força-Tarefa e Seus Desafios
A força-tarefa, formada após o feminicídio de Vanessa Ricarte, analisou 1.604 dos 5,3 mil boletins de ocorrência que estavam parados na Deam. Desses, 1.170 resultaram na abertura de inquéritos. A investigação dos casos parados foi iniciada após denúncias de mau funcionamento da delegacia, reveladas em áudios enviados pela própria jornalista antes de sua morte. Vanessa foi assassinada a facadas pelo ex-companheiro após buscar informações sobre medida protetiva na Deam.
O delegado-geral Lupersio Degerone Lucio informou que casos mais complexos e que demandam perícia têm prioridade na análise. "Os crimes de maior complexidade, que exigem laudos de corpo de delito, estão terminando. A tendência é de maior celeridade no restante, que não exigem laudos, como casos de injúria, vias de fato", comentou.

No entanto, a comemoração da equipe em um churrasco pelo encaminhamento de mil inquéritos gerou polêmica. A delegada Suzimar Batistela registrou o momento nas redes sociais, o que foi criticado por colegas e integrantes do sistema de justiça. "Eu sei que pegou muito mal tanto entre os colegas quanto entre outros integrantes do sistema de justiça", disse uma fonte, reforçando que o serviço não é "nada além da obrigação da delegacia" e que "o clima não é de festa, né?".
### Conclusão: Lições e Caminhos Futuros
A morte de Vanessa Ricarte não apenas expôs as falhas no sistema de proteção às mulheres, mas também impulsionou ações concretas para resolver a situação. Os 1.604 boletins verificados representam 30,26% de todos os 5,3 mil registros aptos ao grupo de trabalho. O delegado-geral Lupersio Degerone Lucio explicou que os 434 boletins já analisados, mas que não resultaram em inquérito, são de fatos prescritos, arquivados ou retornaram à Deam por conexão com outros fatos.
Vanessa havia solicitado medida protetiva após ser ameaçada por Caio. No dia do crime, ela foi até a Deam em busca de mais informações sobre a medida e, em seguida, dirigiu-se ao imóvel onde morava com o músico para buscar seus pertences. Houve uma discussão, e Caio a esfaqueou três vezes no coração. A jornalista chegou a ser socorrida pelo Corpo de Bombeiros, mas não resistiu aos ferimentos e morreu na Santa Casa de Campo Grande. Caio Nascimento, que possui histórico de violência doméstica, foi preso em flagrante e permaneceu em silêncio durante o depoimento na delegacia.
A história de Vanessa Ricarte serve como um lembrete da importância de um sistema eficiente e atento para proteger as mulheres. A força-tarefa formada após sua morte é um passo importante, mas ainda há muito trabalho a ser feito para garantir que casos como o dela não se repitam.